Biofilme: Película
Adquirida vs Placa Bacteriana
Um biofilme é uma estrutura biológica e dinâmica que envolve o dente.
Biofilmes: Existem dois tipos de biofilmes (Película adquirida e
Placa bacteriana).
Película adquirida: ou película adquirida de esmalte é um biofilme
que envolve a parte exterior do dente (o esmalte dentário). Ela forma-se logo
após da erupção do dente. É de notar que a película adquirida é acelular (ela é
composta por proteínas ou glicoproteínas tal como irei referir) e é resistente
à escovagem, pelo que não se preocupem em escovar os dentes porque não irão
danificar esta estrutura. É curioso que bastam apenas dois segundos para que a
película se forme.
Ø Eis
algumas caraterísticas fundamentais da película adquirida:
·
É um biofilme;
·
É acelular;
·
É homogénia;
·
É lisa;
·
É transparente;
·
Para além de estar absorvida à superfície do
dente ela tem a capacidade de se ligar a outras superfícies sólidas de que são
exemplo o ouro e a porcelana (materiais bastante utilizados em medicina
dentária, como todos sabem);
·
É constituída por proteínas e glicoproteínas;
Ø A
película adquirida possui uma ultra-estrutura que pode ser decomposta em 3
partes:
·
Componente sub-superficial: Este componente
localiza-se abaixo da superfície do esmalte e penetra em poros e áreas
desmineralizadas do dente.
·
Componente superficial: Está associada à
superfície do esmalte.
·
Componente supra-superficial: Encontra-se em
áreas de difícil limpeza e te uma espessura variável (entre 1 e 10 µm).
A película adquirida é formada
por proteínas e glicoproteínas que estão na superfície do dente (mais precisamente
na componente supra-superficial), mas podem também conter bactérias e células
epiteliais. A espessura da componente supra- superficial varia de local para
local na cavidade oral tal como varia a composição da componente
supra-superficial, dependendo dos biopolímeros disponíveis.
Como já foi referido atrás a
película adquirida é formada por proteínas e glicoproteínas, mas como é que se
explica a presença de estruturas híbridas encontradas na película? É muito
simples. As estruturas que não se conseguem ligar ao esmalte dentário ligam-se
a proteínas que já estão ligadas ao esmalte através de ligações cruzadas. E
como é que se ligam as proteínas ao esmalte dentário? As proteínas entre si
possuem uma maior ou menor afinidade ao esmalte, isto porque existe uma
interação electroestática entre proteínas, glicoproteínas e hidratos de carbono
à hidroxiopatita do esmalte (mineral que constitui o esmalte, do qual falaremos
melhor posteriormente). Como toda a gente sabe os opostos atraem-se, o mesmo
acontece nesta situação. A hidroxiopatita (com carga positiva proveniente do
cálcio que a constitui) tem afinidade para as proteínas e glicoproteínas com carga
negativa (ácidas). E onde é que se ligam as proteínas básicas? Essas ligam-se
ao fosfato da hidroxiopatita. Para além de proteínas, glicoproteínas e hidratos
de carbono podemos também encontrar lípidos. Será que é benéfico? De facto é.
Como toda a gente sabe os lípidos são difíceis de serem atravessados, fazendo
com que os ácidos libertados pelo metabolismo das bactérias não consigam
atravessar, impedindo a cárie. Existe assim a formação de uma primeira camada e
com posteriores novas ligações de proteínas, glicoproteínas, hidratos de carbono
e lípidos.
Placa bacteriana: Ou placa dentária é constituída por uma
comunidade de bactérias que vivem à superfície do dente.
A placa bacteriana é removível
através de uma boa higiene oral, porque as ligações dos microrganismos à
película bacteriana são feitas através de forças fracas e reversíveis. Posto isto
não é difícil remover bactérias da cavidade oral, tendo em conta que ela é o
principal agente etiológico da cárie e dos danos no periodonto (todos os
tecidos envolvidos na fixação do dente à mandíbula).
Ø Morfologia
da comunidade de microrganismos:
·
É uma comunidade tridimensional.
·
Possui canais que permitem o transporte de
fluídos, nomeadamente substratos, produtos de excreção e moléculas de
sinalização.
·
Ela é sustentada por polissacarídeos, proteínas
e DNA (secretadas pelas células).
·
A placa bacteriana não é homogénea, porque as bactérias
organizam-se por camadas (há formação de diferentes ambientes), que é
influenciada pelo gradiente de agentes químicos, oxigénio e nutrientes. As
bactérias que estão mais juntas à película adquirida são as que menos oxigénio
necessitam (são mais anaeróbias).
As comunidades possuem uma espécie
de “polícias” que mantêm a integridade da placa e impedem a sua destruição.
As diferentes bactérias competem
pelo seu lugar na camada. A administração de um fármaco pode afetar a ligação
de algumas bactérias a esse lugar, mas esse lugar pode ser ocupado por outro
tipo de bactérias.
A composição da placa bacteriana
varia consoante diversos fatores como por exemplo o local da boca, a higiene
oral que se tem, a alimentação, defesas do hospedeiro, tratamento com
antibióticos ou até mesmo a idade.
Podemos encontrar bactérias fixas
na superfície do dente ou em suspensão na
saliva. A saliva funciona como um meio de transporte das bactérias,
podendo a saliva ser intra-hospedeira (da própria pessoa) ou inter-hospedeira
(com origens exógenas à própria pessoa).
A formação da placa bacteriana
divide-se em 4 fases:
Formação da placa Bacteriana
Ø
Transporte: Para que os microrganismos se
liguem às superfícies é necessário o transporte deles. Para isso são utilizados
diferentes mecanismos
·
Fluxo de líquidos: Os microrganismos vão pela saliva.
·
Movimento Browniano: Os microrganismos têm um movimento aleatório que
resulta de choques das moléculas do fluído com eles.
·
Movimento bacteriano: As bactérias têm movimento próprio.
Ø
Adesão: Os microrganismos pioneiros
ligam-se à película adquirida através de uma interação entre película adquirida
e microrganismo.
Ø
Colonização e formação do
biofilme:
Co-adesão de diferentes microrganismos. Colonização secundária (os
microrganismos pioneiros podem servir como “nova superfície” para os
microrganismos subsequentes).
Ø
Maturação do biofilme: Nesta fase há um aumento do
número e diversidade dos microrganismos na superfície do dente, onde os
microrganismos já estão a cooperar perfeitamente entre si- atividade sinérgica.
É de notar que bastam 2 horas para que na placa se formem
microcolónias e polissacarídeos junto à película adquirida, e ao fim de 48
horas temos uma placa bem madura de bactérias.
A maior parte das bactérias deriva de hidratos de carbono,
principalmente de glicoproteínas no que diz respeito à composição em si da
bactéria, que são as que mais abundam na cavidade oral ao contrário da sacarose
e glicose. Os hidratos de carbono são também utilizados na produção de energia.
Para tentar contornar a cárie e impedir a sua formação
ocorre-se muitas vezes ao flúor que extracelularmente tem um papel tamponante (a
de neutralizar os ácidos) e intracelularmente vai inibir a formação de ácidos
através da inibição do metabolismo dos hidratos de carbono.
A placa bacteriana quando endurece (calcifica) passa a
tártaro, que inclusive pode causar dor.
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